segunda-feira, 8 de junho de 2020

O direito à maternidade negado às mulheres negras

Mônica Rocha dos Santos



(Reflexões a partir da leitura do capítulo 10 do livro Teoria Feminista de bell books)


No décimo capítulo do livro Teoria Feminista, bell hooks levanta uma discussão sobre o início do movimento feminista e a questão da maternidade, vista por muitas mulheres brancas de classe média como um obstáculo à liberdade das mulheres. Para hooks, se a percepção das mulheres negras tivesse sido levada em consideração, outros obstáculos à liberdade teriam sido levantados, como o racismo. É esse racismo que aqui no Brasil tem negado o direito de vivenciar a maternidade para muitas mulheres negras.

As mulheres negras da diáspora sempre trabalharam, e nesse contexto, contaram muitas vezes com a comunidade para ajudar a criar seus filhos. A literatura está cheia de exemplos de mulheres negras que abdicaram, pela necessidade do trabalho, do direito de exercerem/vivenciarem a maternidade. As crianças negras são educadas em comunidade, não por uma filosofia de vida, mas pela necessidade da ausência de seus pais.
            Nesse contexto de vivência da maternidade, mães negras estão tendo, muitas vezes, esse direito negado. A violência do racismo (muitas vezes exercida pela ação policial, braço do Estado) tem dificultado a existência das famílias negras. Acabar com a vida dos jovens negros é a política mais eficaz de genocídio a longo prazo praticado aqui no país, que tira a vida do indivíduo e, ao mesmo tempo, desestabiliza sua comunidade.
A maternidade nesses casos é interrompida, negada. Mônica Ribeiro, mãe de Kauê Ribeiro, 12 anos, Vanessa Francisco Sales, mãe de Agatha vitória Sales, 8 anos, Rafaela Matos, mãe de João Pedro Matos, 14 anos e Mirtes Renata Souza, mãe de Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos, são exemplos de mulheres que tiveram seus direitos de maternidade negados por um sistema racista que impede crianças e jovens negros de viverem.
A comunidade negra contribui para a formação e o cuidado de suas crianças, muitas mulheres, mães solos, encontram na comunidade o suporte para criarem seus filhos. É no sistema de ajuda mútua que as crianças vão sendo educadas na comunidade. E é essa comunidade negra que morre toda vez que seus filhos são mortos, a dor da perda das crianças e jovens negros não é apenas a dor de uma família, é também a dor de uma comunidade.
É essa mesma comunidade que diariamente se manifesta contra o genocídio dos seus, toda vez que um corpo tomba a comunidade levanta sua voz em resposta. Talvez essas vozes não ecoem na mídia nacional, mas engana-se quem pensa que estamos apáticos para o projeto político em curso. Em meio a dor das famílias e da comunidade sempre existiu lugar para a resistência e para a luta. Não descansaremos enquanto as crianças e os jovens negros não tiverem direito a existirem e suas mães a vivenciarem a maternidade, pois #VidasNegrasImportam.  

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