quinta-feira, 2 de maio de 2019

Enegrecer o feminismo


A situação da mulher negra da América Latina a partir de uma perspectiva de gênero

Daniela de Oliveira Dantas


Uma luta não vista pela sociedade é travada todos os dias pelas mulheres negras, pois, além de lutarem contra a desigualdade social imposta por uma sociedade historicamente machista, precisam lutar também contra a desigualdade por serem mulheres negras. Desta vez não é apenas a dura desigualdade contra a mulher em seu gênero, mas a desigualdade contra a mulher somada a sua pele negra.
As causas são diversas e as consequências são históricas. Desde sempre a mulher negra foi erotizada e se não servia para ser um objeto sexual, poderia ser empregada doméstica na casa de mulheres brancas privilegiadas pela pele alva. Ser mulher e ser negra em uma sociedade intolerante é travar diariamente uma luta invisível contra o preconceito, uma vez que lutar pelos seus direitos de mulher negra é considerado por muitos apenas uma simples "frescura". Além do mais, para a classe privilegiada, racismo, preconceito, machismo são coisas que não existem, uma mera invenção pra chamar atenção.   
A questão é que o lugar da mulher negra não é limpando o chão onde pisam as mulheres brancas. Lugar de mulher negra não é sendo erotizada por homens, mulher negra não é sinônimo de objeto. Lugar de mulher negra é no mais alto lugar onde ela possa ser vista pela sociedade, como alguém igual, onde seu gênero e sua cor não digam quem ela é, afinal de contas igualdade é para todos e todas.

Absorvendo o tabu


Ana Beatriz Soares Portela







O documentário Absorvendo o tabu, produzido por Rayka Zehtabchi relata como a população de uma pequena vila rural ao redor de Delhi, na Índia, lida com a menstruação. O curta, de apenas 26 minutos, pode parecer repetitivo, pois ouve relatos de diversas mulheres sobre como elas são tratadas quando estão menstruadas, mas busca justamente revelar o grande tabu que existe quanto a algo natural que toda mulher enfrenta durante sua vida.


As mulheres desta pequena vila rural não possuem acesso a absorventes, o que faz com que elas utilizem panos nada higiênicos, ou não usem nada. Essas que se sujam de sangue são segregadas da sociedade em diversos âmbitos: religiosos, trabalhista, etc. De acordo com o depoimento de uma das mulheres entrevistadas, muitos templos religiosos as rejeitam por considerar as mesmas sujas, impuras, etc. Além disso, os homens também não possuem conhecimento algum do que seja a menstruação, pelo menos alguns, o que fortalece, ainda mais, a ideia de tabu quanto à menstruação, pois é algo natural que deve ser de conhecimento de todos.

Ao longo do curta um pequeno empresário descobre uma máquina que ajuda na produção de absorventes e a fim de fazer com que as mulheres daquela região saibam da importância da utilização do absorvente para a saúde e higienização das mesmas, ele convida algumas mulheres para começarem a produzi-los. Com isso, as mulheres empreendedoras vão crescendo na produção e levando os absorventes produzidos por elas para outras mulheres, fazendo, assim, uma grande revolução na vida das mulheres da região.

Além disso, trazem autonomia financeira e social para elas, ou seja, de fato é uma grande revolução, ajudando até mesmo no fator psicológico. Enfim, o curta apresenta uma sociedade altamente preconceituosa quanto a um tema que deve ser normal para todos, uma vez que não é uma escolha da mulher, e sim algo unicamente natural do corpo feminino. O filme é uma denúncia do péssimo tratamento dado às mulheres, o que as discrimina e segrega no dia a dia de suas comunidades, sendo algo desumano, apenas por elas estarem no período menstrual.



Cine debate 2