domingo, 18 de agosto de 2019

Racismo genderizado


Por Mônica Rocha dos Santos


“(...) Você gostaria de limpar nossa casa” –
Conectando “Raça e gênero”

Grada Kilomba, no seu texto, nos faz revisitar nossas próprias memórias, ao narrar situações que fizeram parte da sua infância e que em algum grau pode ter acontecido ou acontecer com outras meninas negras. Os seus questionamentos sobre as conexões entre raça, gênero e racismo, também se transformam rapidamente em nossos questionamentos.

A pergunta de onde está à mulher negra dentro das discussões de gênero ou dentro das discussões raciais, perpassa todo o texto, ficando evidente o lugar invisível dessas sujeitas na literatura e na militância. As demandas das mulheres negras não se encaixam apenas em um desses grupos, logo são esquecidas por ambos.

É importante entender a mulher negra em um contexto onde são acometidas por múltiplas opressões, que muitas vezes não podem ser hierarquizadas, pois agem de forma interseccional.  Assim, Kilomba fala de racismo genderizado para definir o “racismo sofrido por mulheres negras como estruturada por percepções racistas de papéis de gênero”.

Somos alertadas(os) para o papel da mulher negra como sujeitas falantes “que estão transformando a teoria” e principalmente a importância da mulher negra como pesquisadora  fato que pode “implicar tanto as maneiras pelas quais ‘raça’ e gênero têm sido teorizado até agora quanto para a teoria social em geral”. 

sábado, 17 de agosto de 2019

Marcha das Margaridas


Cecília Braz Arcanjo




“Olha Brasília está florida
Estão chegando as decididas
Olha Brasília está florida
É o querer, é o querer das Margaridas
Somos de todos os novelos
De todo tipo de cabelo
Grandes, miúdas, bem erguidas
Somos nós as Margaridas
Nós que vem sempre suando
Este país alimentando
Tamos aqui para relembrar
Este país tem que mudar!”

Elas são camponesas, produtoras, trabalhadoras, agricultoras, quilombolas, indígenas, pescadoras, ribeirinhas. As Margaridas se reúnem a cada quatro anos na capital brasileira, em forma de marcha, para reivindicar direitos e políticas públicas voltadas às trabalhadoras do campo. Em 2019, a Marcha das Margaridas reuniu cerca de 100 mil mulheres no coração de Brasília, inundando o Eixo Monumental de roxo, cor oficial da marcha. Aos poucos a Esplanada dos Ministérios foi sendo colorida, ocupada por flores e cantos, tambores e violas, saias e chapéus floridos, tintas e penas.

O lema da Marcha esse ano foi “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência". A organização da Marcha elaborou uma Plataforma Política, organizada em eixos temáticos, que nasceu de discussões e reflexões acerca dos desafios vivenciados pelas trabalhadoras rurais. Mais do que uma pauta única, as Margaridas apresentam propostas concretas para avançar na construção de uma sociedade democrática, mais igualitária e com respeito à natureza. Os eixos temáticos incluem desde temas ligados à biodiversidade e conservação ambiental até assuntos que englobam a autonomia e liberdade das mulheres.

Assim, a defesa do meio ambiente é pauta central do movimento, porém as mulheres não esgotam suas reivindicações nesse campo. Elas trazem à tona um debate complexo, que abrange a dominação patriarcal que permeia as relações humanas, a opressão nas formas de trabalho, o racismo estrutural e a intolerância religiosa como instrumentos de dominação sobre as mulheres, promovendo a violência contra seus corpos e ameaçando sua existência. Dentre as bandeiras levantadas por elas estão a luta pela proteção social do trabalho, o direito de acesso ao SUS, a reforma agrária, a demarcação das terras indígenas, a preservação das florestas, a educação pública de qualidade e o combate ao racismo, à violência, ao trabalho escravo e à exploração da natureza.

Em suma, as Margaridas alimentam o sonho por uma sociedade mais igualitária e diversa, desenvolvida sustentavelmente e pautada pelos pilares da justiça e soberania dos povos, nos deixando uma lição de democracia e justiça social!


O nome da marcha é uma homenagem à Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada em 1983 por latifundiários. Nada mais vivo e atual do que rememorar a luta de mulheres guerreiras como Margarida. Mal sabem eles que, quando nos podam, viramos semente!

Como diz nosso canto feminista “Companheira me ajude/ Que eu não posso andar só/ Eu sozinha ando bem/ Mas com você ando melhor”.

Juntas somos mais fortes!
Margarida vive!


Para saber mais sobre a Marcha das Margaridas, clique aqui.

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