segunda-feira, 8 de junho de 2020

Homens: Companheiros de Luta

Mateus Santos de Sousa



(A partir da leitura do capítulo 5 da Teoria feminista de bell hooks)


Bell Hooks enfatiza a respeito da luta feminista e suas mais diversas ramificações sociais. Em específico, neste capítulo a autora mostra a importância dos homens para a emancipação do movimento, sem desconsiderar que eles se encontram em uma posição de privilégios e gozam das oportunidades do capitalismo, às quais as mulheres não possuem acesso pelo simples fato de nascerem mulheres em um sistema patriarcal, que se baseia em opressão e dominação. 

Vivemos em uma sociedade machista e os homens sabem disso. Uma pesquisa realizada pela ONU Mulheres e o portal PapodeHomem (2016) aponta que 81% dos homens consideram o Brasil um país machista. Sendo assim, o machismo é a base para a difusão das mais diversas violências contra a mulher, o que se torna inaceitável, pois a cada 4 minutos uma mulher e agredida no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Mas para isso acabar é preciso nos posicionar de forma assertiva, dialogando e trazendo essas discussões para os ambientes de convívio social.

Em primeira análise, bell hooks reitera sobre a importância de envolver todos e todas nessa luta, principalmente os homens, como explicitado pela própria autora no trecho a seguir: “Definido como movimento para acabar com a opressão sexista, o feminismo autoriza homens e mulheres, [...], a participarem em condições iguais da luta revolucionária” (HOOKS, 1984, p. 111). Mas para que tal afirmação aconteça é preciso haver um engajamento e interesse por parte dos homens, para mudar o nosso comportamento e da sociedade sobre a opressão sexista. Em conjunto, podemos difundir que a igualdade de gênero é uma causa social, política e econômica com a intenção de promover mudança social. 

“O machismo é uma grande cegueira”, essa frase do psicólogo Fred Mattos é bastante pertinente para a discussão de Bell Hooks sobre o papel do homem dentro do feminismo. Contudo, vivemos em uma sociedade onde existem interesses privados, como exemplo, por que lutar contra meus privilégios de gênero? Ou pior, por que acabar com meu poder de dominação? O feminismo se torna uma ameaça por confrontar paradigmas de desigualdade e interesses individuais no meio masculino, por isso há uma certa resistência em sentar para ouvir uma mulher ou dar credibilidade a seus feitos e sucessos profissionais.

Hoje em dia, já existem grupos de homens que demonstram interesse pelo tema e querem contribuir com a causa. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon (2016) com 1.800 homens, observou-se que 88% dos entrevistados acreditam que há desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade. Porém, foi constatado pela mesma pesquisa que alguns homens desse grupo não sabem como mudar seus comportamentos machistas e, por esse motivo, é de fundamental importância que as feministas auxiliem esses homens por meio de diálogos e projetos de inclusão social dentro da luta feminista. 

Segundo a autora, para alcançarmos um país mais igualitário e justo, faz-se necessário emancipar homens e mulheres a resistirem à educação sexista, a qual ensina a odiar e temer uns aos outros. “A retórica feminista baseada na ideia de que os homens são inimigos não resultou em muitas implicações positivas” (HOOKS, 1984, p. 122), como observa bell hooks. Tratar os homens com hostilidade, utilizando da lógica de vilão e heroína não os tornará suscetíveis às ideias feministas e sim alimentará um desejo de supremacia e dominação, por se sentirem ameaçados. 

Por fim, foi analisada a questão de raça e classe dentro do feminismo, citando a escritora negra Maya Angelou, que realiza uma discussão sobre os diferentes papéis desempenhados por mulheres brancas e negras nas comunidades. bell hooks analisa em encontros sociais diferentes que mulheres negras sempre predominam no ambiente, em contrapartida, as mulheres brancas vivem sobre a tutela dos homens brancos, com certo grau de parentesco, impondo o lugar onde elas devem estar com a seguinte afirmação “eu não preciso que vocês comandem minhas instituições” (HOOKS, 1984, p. 114). Através dessa experiência, bell hooks comprovou que as mulheres negras estavam dizendo para os homens negros que não eram inimigos e que precisavam se opor à educação que ensina a nos odiarmos, porque há uma causa maior, a luta antirracista. Essa ideia repercutiu recentemente na ligação afetiva entre dois negros em um reality show (HOOKS, 1984). Precisamos de homens e mulheres na luta contra o sistema do patriarcado.


“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor” PAULO FREIRE.
Referências Bibliográfica:
HOOKS, Bell. Teoria Feminista: da margem ao centro. Ed.1. São Paulo: Perspectiva, 2019.
81% dos homens consideram o Brasil um país machista, aponta pesquisa inédita da ONU Mulheres. ONU Mulheres, 25 de out. 2016. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/81-dos-homens-consideram-o-brasil-um-pais-machista/> Acesso em: 05 de mai. 2020.
CUBAS, Marina, G. ZAREMBA, Júlia. AMÂNCIO, Thiago. Brasil registra 1 caso de agressão a mulher a cada 4 minutos, mostra levantamento. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 de set. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/brasil-registra-1-caso-de-agressao-a-mulher-a-cada-4-minutos-mostra-levantamento.shtml> Acesso em: 05 de mai. 2020.
O papel do homem na desconstrução do machismo. Instituto Avon, São Paulo, set e nov. 2016. Disponível em: < http://institutoavon.org.br/uploads/media/1481746069639-projeto_ia_20x20cm.pdf> Acesso em: 06 de mai. 2020.

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