domingo, 13 de setembro de 2020

O papel das mulheres modernas (?) na Pandemia

Priscila Aguiar Maia Barbosa 



Foto: Helene Santos

 

Na figura acima, Dona Maria (60) representa o retrato da maioria das mulheres brasileiras. Empregada doméstica, mãe solo de cinco filhos e avó de um. Dona Maria, atendendo aos pedidos dos patrões e, para manter o sustento da família, dorme no trabalho durante a semana e vai para casa apenas aos finais de semana.

Com a chegada da pandemia em 2020, a sobrecarga dos afazeres domésticos se intensificou para as mulheres, algo que já era alto antes deste ano.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, as mulheres já dedicavam, em média 21,3 horas aos afazeres domésticos, quase o dobro se comparado aos homens, que dedicavam, em média, 10,9 horas semanais aos mesmos afazeres. Conforme estudos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), são elas, majoritariamente que preparam as refeições (68% x 24%), em relação a limpeza da casa elas se mantiveram na liderança (63% x 23%), as mulheres também lideram outros campos, como, administrar o dinheiro ou o orçamento doméstico (56% x 44%), fazer as compras no supermercado/feira (54% x 40%), e só não lideraram no quesito cuidar da poupança ou dos investimentos (45% x 47%). Ainda de acordo com a Febraban, 71% das entrevistadas afirmam que a responsabilidade sobre a vida escolar dos filhos recaiu sobre as mulheres após o início da Pandemia.

  

Mulheres na década de 50.

Fonte: Banco de Imagens do Google.

Por outro lado, há de se considerar as mulheres que são mãe solo — 11,6 milhões em 2015 —, como Dona Maria, que também são mães, mulheres, profissionais e filhas.

Ademais, a Pandemia do Covid-19 exacerbou problemas estruturais que assolam a vida das mulheres brasileiras. Como, por exemplo, os casos de violência doméstica no estado do Rio de Janeiro (RJ), que chegaram a obter um aumento de 50% nos registros de violência doméstica. Durante esse período, em razão de os casais estarem mais tempo juntos em casa, as mídias sociais criaram a hashtag #AntiDomesticViolenceDuringEpidemic para expressar o repúdio à violência doméstica ao redor do mundo, além de contar relatos de violência e levar informação aos internautas.

Tampouco, outras áreas predominantemente ocupadas por mulheres (BETIOL; TONELLI, 1991) também tiverem dados expressivos, como por exemplo, a sobrecarga das mulheres na área da saúde. De acordo com o IBGE, em uma pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen, 2015), a equipe de enfermagem é majoritariamente feminina, correspondendo a 84,6% dos cargos ocupados por mulheres. Durante a pandemia, até o mês de setembro/20, foi identificado 32.822 casos de enfermeiras com o covid-19, enquanto 5.769 enfermeiros contraíram a doença. Já em relação aos óbitos, registrou-se o falecimento de 251 mulheres. Foram 251 vidas femininas que estiveram na linha de frente, lutando contra os riscos da profissão, colocando em risco suas vidas e de seus familiares.

 Portanto, temáticas sobre igualdade nas tarefas domésticas e quebra de paradigmas discriminatórios se fazem cada vez mais importantes. A História ensina fatos que devem servir de exemplo para que não sejam repetidos. Já o presente exprime dados cruéis e que devem servir de lição para o futuro. Lutar pela igualdade de gênero é uma luta de todos. De todos para àqueles que não representam mais uma minoria.

 

Referências

BETIOL, Maria Irene Stocco; TONELLI, Maria José. A mulher executiva e suas relações de trabalho. Revista de administração de Empresas, São Paulo, v. 31, n.4, p. 17-33, out./dez. 1991. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rae/v31n4/v31n4a03.pdf>. Acesso em 09 de setembro de 2020.

 

COFEN. Pesquisa inédita traça perfil da enfermagem. 2015. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/pesquisa-inedita-traca-perfil-da-enfermagem_31258.html>. Acesso em 10 setembro 2020.

 

DTIC/COFEN. Observatório da Enfermagem: profissionais infectados pelo covid-19. Profissionais Infectados pelo Covid-19. 2020. Disponível em: <http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/>. Acesso em 10 de setembro 2020.

 

FEBRABAN. Observatório Febraban (II):: as famílias após a pandemia. As famílias após a pandemia. 2020. Disponível em: <https://cmsportal.febraban.org.br/Arquivos/documentos/PDF/200720_OBSERVATO%CC%81RIO_FEBRABAN_JULHO%202020_final_iD_Ipespe.pdf>. Acesso em 9 setembro 2020.

 

LIMA, Juliana Domingos de. Quais os impactos da pandemia sobre as mulheres. 2020. Jornal Nexo. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/24/Quais-os-impactos-da-pandemia-sobre-as-mulheres>. Acesso em 10 de setembro 2020.

 

MESQUITA, Carolina. Mães chefes de família lutam para manter sustento do lar na pandemia. 2020. Disponível em: <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/maes-chefes-de-familia-lutam-para-manter-sustento-do-lar-na-pandemia-1.2243921>. Acesso em 10 setembro 2020.

 

Cine debate 2