Amanda Lima
“One of us” é um documentário dirigido por
Heidi Ewing e Rachel Grady, que acompanha a história de três judeus hassídicos:
Etty, Ari e Luzer. Eles moram no Brooklyn e buscam de alguma forma a
liberdade individual em meio a uma comunidade bastante fechada.
Os judeus
hassídicos formam um movimento bem específico dentro do judaísmo ortodoxo, no qual as pessoas vivem sob regras bastante rígidas. Eles criam seu próprio código de
conduta, frequentam escolas próprias e os materiais didáticos são
minuciosamente analisados antes de serem entregues aos alunos. As pessoas mais
velhas que compõem a comunidade possuem um medo do conhecimento e se opõem a
ter qualquer tipo de acesso à produção cultural secular dentro da comunidade. Por
isso, o acesso às bibliotecas é proibido como forma de impossibilitar esse
contato. As pessoas que fazem parte desse grupo vivem em um universo à parte,
sem contato algum com saberes ou vivências diferentes.
O ponto central
desse documentário é perceptível no momento em que os três personagens
principais decidem abandonar essa vida cheia de regras, e isso é exposto de forma
bastante humanizada e dolorosa refletida na solidão que os acompanham e quando
precisam lidar com o afastamento dos próprios familiares, e ainda ter a
dificuldade de viverem em um outro mundo sobre o qual eles pouco sabem, já que
anteriormente essa opção não era permitida para os mesmos, um fator que
dificultava a inserção deles no mercado de trabalho pelo fato da educação ser
bastante limitada.
Esse
documentário consegue captar de forma interessante o choque cultural que existe
entre a religião, o estado e a liberdade, e mostra a necessidade de se abrir um
debate de forma séria em relação à liberdade religiosa e cultural dentro da
modernidade. Isso faz surgir questionamentos sobre as concepções construídas
sobre bases tradicionais em paralelo ao mundo em que vivemos hoje.
É
necessário abrir espaços de debate para essa pauta, visto que, ainda em alguns lugares, inúmeros tipos de violências ou limitações no modo de viver dessas pessoas são
naturalizados e legitimados sobre o discurso de ser algo cultural, que sempre
foi assim. É preciso ter um olhar de cuidado e respeito sobre as manifestações
de cultura ou religião, mas é necessário que essas concepções sobre como cada
comunidade religiosa deve ser regida não acabe violando a autonomia e vivência
de cada indivíduo.