sexta-feira, 1 de maio de 2020

Feminismo: Um movimento para acabar com a opressão sexista


Aline G. Andrade



(A partir da leitura do capítulo 2 da Teoria Feminista, de bell hooks)


No segundo capítulo do livro A teoria feminista, bell hooks destaca a falta de consenso existente dentro do feminismo sobre o seu próprio significado e também do que é ‘ser feminista’. Essa dificuldade, segundo ela, demonstra a falta de interesse no movimento feminista como um movimento político e radical. Como não existe uma definição concreta sobre o mesmo, muitas pessoas acabam vislumbrando o movimento como um simples indutor da pauta de “igualdade entre homens e mulheres”. Essa colocação, como aponta a autora, é carregada de problemas, tendo em vista que exclui as questões de raça e classe dentro das relações sociais. A autora questiona:

Se os homens não são iguais entre si dentro da estrutura da classe patriarcal, capitalista e de supremacia branca, com quais homens as mulheres querem se igualar? Elas partilham da mesma opinião sobre o que é igualdade?  (hooks, 2019, p. 48).
Nesse sentido, as mulheres não brancas e de classes mais baixas entendem que muitos homens que partilham de condições similares a sua (classe e raça), são explorados e oprimidos diariamente; sendo assim, não anseiam essa “igualdade de gênero”. Importante ressaltar que algumas ativistas do movimento já colocavam que o feminismo deveria lutar “pela erradicação da dominação e do elitismo em todas relações humanas” (hooks, 2019, p. 49). No entanto, existem feministas defensoras da igualdade entre os homens de sua mesma classe, o que para bell hooks torna o movimento mais reformista do que radical revolucionário.
Esse reformismo advém de um feminismo liberal, que não pretende quebrar com sistema de dominação patriarcal e capitalista. Segundo a autora “essa falta de preocupação com a dominação é coerente com a crença do feminismo liberal de que a mulher pode se igualar socialmente aos homens sem desafiar e modificar a base cultural da opressão de grupo” (hooks, 2019, p. 51). Ressalta-se que algumas pautas feministas são aceitas pela sociedade, exatamente por não almejarem alterar o status quo, tornando assim as reformas pouco efetivas para emancipação da mulher no que tange a parte econômica.
Ademais, bell hooks aborda um pouco do que vem causando diversos conflitos entre mulheres, a utilização do termo “feminista”:

É como se o termo tivesse uma conotação desagradável e com a qual não valesse a pena se associar. Possivelmente, se você lhes apresentasse todas as crenças feministas, elas acatariam tudo literalmente - mas mesmo quando se assumem feministas, elas não hesitam em dizer não (hooks, 2019, p. 54-55).
            Segundo a autora, as explicações para esse “medo” variam, destacando-se o medo de serem associadas com movimentos políticos radicais, com lésbicas e também com o ‘feminismo branco’. Nesse sentido, aponta-se que as definições de feminismo normalmente são diferentes de acordo com a natureza de classe. O caráter liberal define o feminismo como sendo movimento individual que defende os direitos da mulher à liberdade e autodeterminação; já os de caráter radical, defende que o movimento é coletivo e pautado na erradicação do sexismo e todas as formas de opressão. Diante do exposto, bell hooks critica a primeira abordagem, pois considera que não é possível somente defender a autonomia e liberdade pessoal da mulher, é necessário defender a igualdade de oportunidade que possibilitará extinguir a dominação masculina.
Em vistas dessa individualização, muitas mulheres não desenvolveram a habilidade de compreender o coletivo e suas complexidades. Sendo assim, bell hooks incentiva que "perspectivas mais amplas só podem emergir se examinarmos tanto a dimensão pessoal, que é política, quanto os aspectos políticos orientados à revolução global" (hooks, 2019, p. 57). A autora coloca que o objetivo do movimento deve ser a transformação do coletivo e não de grupos específicos. Dessa forma, bell hooks expõe claramente que "o feminismo não é um estilo de vida, nem uma identidade pré-fabricada ou um papel a ser desempenhado em nossas vidas pessoais" (hooks, 2019, p. 59). A autora faz uma crítica contundente dizendo que essa maneira de ver o feminismo reflete a natureza de classe, onde a maioria das mulheres que utilizam o movimento como ‘estilo de vida’ são advindas da classe média, jovens solteiras e com diploma de ensino superior. A alternativa contrária a isso seria vislumbrar o feminismo como um compromisso político capaz de se engajar em práxis revolucionária capaz de modificar as estruturas individualistas advindas do capitalismo.
Por conseguinte, bell hooks explana sobre os questionamentos direcionados a ela referente a importância da luta do feminismo e o fim do racismo, de forma a hierarquizar os dois movimentos (feminismo x antirracismo). De acordo com a sua visão, essa dicotomia é "(...) enraizada no pensamento competitivo, na crença de que o indivíduo se constitui em oposição aos demais" (hooks, 2019, p. 63). Nesse sentido, a autora explica que muitas pessoas visualizam os dois movimentos como opostos, ou seja, não sendo possível ser feminista e antirracista ao mesmo tempo. Esse tipo de imposição vem afastando mulheres negras das questões feministas, por sentirem desconforto e insegurança ao se identificarem como feministas, ficando implícito que é mais importante que a luta antirracista.
Sendo o feminismo um movimento de classe, as teorias estão sendo elaboradas por mulheres brancas, dessa forma grupos não privilegiados sentem que estas apenas reforçam a dominação da elite burguesa. Em contraponto, é encorajado que mulheres negras colaborem com trabalhos ligados a experiências pessoais, sendo estes importantes para o movimento, porém, segundo a autora, não podem substituir a teoria. Dessa forma, entende-se que as mulheres negras não são convidadas para participarem das formulações de teorias.
Por fim, o capítulo ‘feminismo como movimento para acabar a opressão sexista’ discorre sobre as questões do sistema de dominação e interrelação de sexo, classe e raça. Bell hooks finaliza o capítulo esclarecendo que:
(...) a futura luta feminista precisa ser solidamente alicerçada no reconhecimento da necessidade de erradicar os fundamentos e as causas culturais do sexismo e de outras formas de opressão social. Sem desafiar e modificar essas estruturas filosóficas, nenhuma reforma feminista terá um impacto duradouro" (hooks, 2019, p. 66).


Referências

Hooks, bell. Teoria feminista: da margem ao centro. Trad. Rainer Patriota. São Paulo: Perspectiva, 2019.

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